domingo, 24 de novembro de 2013

Enologia e Enogastronomia


Em uma abordagem simples, a enogastronomia se refere à tradição de complementar uma refeição com os sabores do vinho, buscando a harmonia entre aromas, texturas e cores que saltam aos olhos e ao paladar. Hoje, o prazer de descobrir novos destinos não fica completo sem levarmos em conta, por exemplo, a culinária da região a ser visitada. Mais que isso, ao conhecer novas culturas, sentimos a necessidade de que esse momento seja de alguma forma único e, no retorno, a memória seja cultivada com imagens e sabores experimentados. A enogastronomia pode ser o motivo principal, ou inicial, para decidir por uma viagem.

Recentemente o Monte Etna vem chamando atenção também devido aos vinhos produzidos na região, que já estão entre os grandes da Itália, depois de um longo período de decadência, quando diversas propriedades foram abandonadas. Há brancos fabulosos como o Pietramarina 2003, produzido pela Benanti, e o ValCerasa Etna Bianco, da Bonaccorsi, duas das principais vinícolas locais. Feitos com a uva carricante, são vinhos exuberantes aromaticamente, e que se dão muito bem com os pratos de peixes e frutos do mar típicos da Sicília. Entre os tintos a medalha de ouro vai para a casta nerello mascalese, que origina vinhos deliciosos, como o Tascante, da Tasca d’Almerita, uma das principais vinícolas da Sicília. A ilha aposta pesado nos vinhedos do Etna, que produzem outros vinhos tão bons quanto o Tascante, como o Etna Rosso Prephylloxera, da Tenuta delle Terre Nere, e o Passopisciaro IGT, da bodega de mesmo nome. São vinhos que não podem faltar em qualquer roteiro pela Sicília, especialmente na Costa Leste da ilha.

 Vinho Etna Bianco Pietramarina 2003

 Vinho ValCerasa Etna Bianco

No coração da ilha, onde encontramos a Tenuta Regaleali, epicentro da produção de vinhos da Tasca d’Almerita, uma das maiores e melhores vinícolas do lugar, eleita recentemente a “vinícola do ano de 2012 na Itália”, pelo Vini d’Italia, respeitável guia editado pelo Gambero Rosso. Com uma linha bastante variada, produzida em cinco propriedades espalhadas por várias áreas, a família Tasca, de históricos produtores de vinhos na ilha, tem neste enclave rústico e elegante no meio das montanhas sicilianas o seu quartel-general.É onde nasce o grandioso Rosso del Conte, que representa bem a nobreza da família: vinho potente, uma explosão de frutas com aromas de especiarias e um invejável frescor. É ótima companhia para os deliciosos cordeiros criados na região, nos arredores de Vallelunga Pratameno, um dos recantos mais isolados da Sicília.
Rosso del Conte 2007 - 150 clVinho Rosso del Conte

Há algumas modalidades de visitas, que podem ser personalizadas: o tour guiado com degustação pode ser incrementado com petiscos típicos (recomendável), como o tradicional panelle, uma massa de grão-de-bico frita em azeite, que forma um belo par com vinhos brancos e rosados.

Mas o acesso não é dos mais fáceis, e o lugar é lindo e acolhedor, de modo que o melhor mesmo é passar ao menos uma noite na vinícola, aproveitando os quartos da pequena pousada que funciona no local, uma linda construção do fim do século XIX com paredes de pedra e tijolinho e jardins muito bem cuidados.

— Não chega a ser um hotel. São nossos quartos de hóspedes, que abrimos também para os turistas — diz Alberto Tasca, hoje à frente dos negócios da família.

Ali também funciona uma bem montada escola de cozinha, chamada Anna Tasca Lanza, considerada a mais importante da Sicília, com uma programação de cursos que vai além dos sabores, incluindo outros temas, como o programa “Yoga, terroir & health”, com duração de seis dias (custa € 1.500, incluindo aulas, hospedagem, alimentação, bebidas e passeios pelos arredores). Além da programação regular é possível organizar aulas e cursos personalizados, de acordo com o interesse de cada aluno ou grupo de alunos.
Quem coordena a escola é Fabrizia Tasca Lanza, prima de Alberto e filha de Anna, a fundadora da escola. Chef de cozinha, ela também escreve sobre o assunto e dá aulas em um ambiente informal, ensinando as técnicas e receitas típicas da ilha. Na grade normal, os cursos duram entre um dia (€ 150) e cinco dias (€ 2 mil), sempre em regime “tudo incluído”. Impossível é não querer trazer para casa os produtos do lugar, como geleias, molhos, ervas desidratadas e vegetais em conserva, como minialcachofras, cogumelos e tomates.

Mas o interior da ilha não vive apenas do ambiente rural e seus comes e bebes. Embora a maior parte dos sítios arqueológicos estejam localizados nas áreas costeiras, também encontramos relíquias do período romano nas entranhas da Sicília. Como a preciosa Villa Romana del Casale, a sudeste de Vallelunga Pratameno e ao sul de Enna, cujo destaque é a Piaza Amerina, um dos mais importantes sítios arqueológicos da Itália, principalmente por conta da impressionante coleção de mosaicos encontrados ali a partir dos anos 1950, conservados pelo barro de uma inundação. Entre as belas imagens, uma das mais famosas é a série batizada “Meninas de biquíni”, com desenhos de mulheres em roupas que poderiam ser usadas hoje, em Ipanema, sem qualquer qualquer tipo de estranhamento.

Tombado pela Unesco há 15 anos como Patrimônio Mundial da Humanidade, o sítio arqueológico de Villa Romana del Casale, com passarelas e uma ótima estrutura de visitação, colocou esta região, na parte Centro-Sul da Sicília, no mapa do turismo da Itália. Porque apesar de ser uma ilha, e Sicília não vive só de litoral. O interior guarda seus encantos.

A Oeste, praias, templos e vinhos:

O mais famoso vinho da Sicília, o Marsala, é produzido na cidade de mesmo nome, na Costa Oeste da ilha, uma área relativamente pouco explorada pelos turistas. Um pouco mais ao norte, a cidade de Trapani é o ponto de partida para se visitar o filé mignon da porção ocidental da Sicília: as ilhas de Favignana, Marettimo e Levanzo, com águas incrivelmente claras e algumas praias desertas.
 Ficheiro:Marsala Wine.jpg
Vinho Marsala

Outro ícone da enologia siciliana, o Passito de Pantelleria, é um vinho doce feito a partir de uvas passificadas, como indica o nome, secas ao sol, concentrando o nível de açúcar. Mais próxima da costa do Norte da África (mais especificamente da Tunísia) do que da italiana, a ilha de Pantelleria, que pode ser alcançada de avião ou de barco, sempre com saídas de Trapani, também apresenta uma coleção de praias de tirar o chapéu, tão lindas quanto os vinhos feitos na região.

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